sábado, 5 de setembro de 2009

SUMMERHILL SCHOOL (INGLATERRA)

Estas últimas semanas tenho devorado livros sobre educação alternativa, desde Freinet, Montessori, Neil.
Tenho gostado especialmente do Liberdade sem Medo, de Neil, que retrata a realidade da escola de Summerhill.
Cada capítulo que leio, e da minha experiencia com crianças, cada vez mais tenho a certeza que é necessário formar crianças-livres, que possam expressar as suas opiniões, frustações , gostos desde sempre. É necessario perceber que a criança deve ser respeitada e ouvida como qualquer pessoa adulta, com igual direito a participar na construção da sociedade de que faz parte. A criança é quem mais sabe o que precisa, embora necessitando da orientação e da experiência das pessoas adultas, que deviam interferir o menos possível, no processo da criança de se descobrir e de se fazer como é. Não podemos continuar a formar crianças globais, que crescem apavoradas com o medo de ser diferentes e de desiludir aqueles os formaram.
Na minha opinião, temos urgentemente de repensar na educação das nossas crianças, não estaremos nós a ensinar-lhes a sobreviver, em vez de viver?

Deixo-vos com um resumo de como funciona a Escola de Summerhill:

"Summerhill é uma escola inglesa, fundada em 1921 por Alexander Sutherland Neil, que faleceu em 1973. É uma das pioneiras dentro do movimento das escolas democráticas. Atende crianças do ensino fundamental e do ensino médio. Atualmente a diretora é a filha de Neil, Zoe Readhead. Em Summerhill os alunos não são obrigados a frequentar as aulas. Mas uma vez que se decidam a frequentá-las, são obrigados a manter a disciplina e respeitar seus colegas e professores. Segundo Neil, muito tempo se perde forçando crianças a frequentar aulas antes do tempo, quando seus interesses e atividades não condizem com estar sentado em uma sala de aula, reprimindo sua natural energia e vontade de explorar o mundo com suas próprias mãos. Crianças de sete a dez anos raramente se interessam em assistir aulas, porém o tempo supostamente perdido é rapidamente recuperado quando se decidem a frequentá-las. A escola é administrada pelos próprios alunos. Em assembléias semanais, os alunos decidem as regras e como a escola devem funcionar. Em determinados casos, crianças de sete anos eram líderes das assembléias, e eram respeitadas. Summerhill atende alunos de 5 a 16 anos. As crianças são divididas em três grupos etários: dos 5 aos 7 anos, dos 8 aos 10 anos, dos 11 aos 15 anos.
As crianças dormem na escola durante todo o período letivo e são instaladas por grupos etários com uma "mãe-de-casa" para cada grupo. Os alunos não sofrem inspeção nos quartos e ninguém é responsável por pegar os objetos pessoais deixados fora do lugar, além é claro do próprio dono.
As manhãs são destinadas para as lições e as tardes são livres para atividades diversas que as crianças desejem desenvolver. Apesar de os alunos não serem obrigados a participar das aulas, um grupo pode expulsar de uma aula um aluno faltoso por atrapalhar o andamento dos trabalhos.
Muito do que A. S. Neil prega é certamente controverso e será rotulado por muitos como heresia da pior espécie. Entretanto, dos muitos ensinamentos que Neil nos deixou, o mais importante é o respeito integral ao aluno, respeito às diferenças. Summerhill, antes de tudo, é uma escola (ela ainda funciona, mesmo depois da morte de seu fundador) onde se respira liberdade e onde as crianças são confiantes e felizes.
Muitas teorias são feitas sobre o que uma escola deve ensinar, o que é outra das grandes tragédias da educação. Summerhill acerta em cheio ao propiciar meios para que seus alunos sejam confiantes e felizes. Aprender, o que quer que seja, fica muito mais fácil nestas condições.
A função de uma criança é viver a sua própria vida - não a vida que seus pais ansiosos pensam que ela deve viver, nem uma vida de acordo com o propósito do educador que pensa que sabe o que é melhor. Toda esta interferência e orientação da parte dos adultos apenas contribuem para formar uma geração de robôs.
O jeito certo para se educar eu não sei qual seja, mas o que devemos buscar em educação é oferecer o ambiente e o meio para um desenvolvimento sadio e feliz das crianças. O resto se arruma por si só."
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/22651/1/diferentes-modelos-de-escolas-na-atualidade-escola-da-ponte-portugal-e-summerhill-school-inglaterra/pagina1.html

2 comentários:

  1. O método de Summerhill suscita-me algumas dúvidas.
    Tendo por principio a total liberdade de escolha da criança, e tendo em conta que o ensino seja qual o método utilizado deve ter sempre por base valores como o respeito pelos outros e pelo meio que nos rodeia, não estará esse método logo aqui a entrar em contradição? Se queres-mo um ensino totalmente livre, que não forme robôs, teríamos de por a disposição das crianças todas as hipóteses de escolha que o mundo moderno nos oferece, e tal entraria em conflito com o ensino dos valores base.

    Dando um exemplo pratico, fornecendo a escola total liberdade de escolha, sem quaisquer regras base, a escola teria de apresentar como uma escolha valida, a criança brincar batendo noutras crianças, não a podendo condenar, porque num mundo de total liberdade tal seria legitimo.

    Assim será correcto dizer que é uma educação isenta a fornecida em Summerhill ?
    Penso que não, pois o objectivo desta escola assim como de todas as outras é a de educar as crianças em valores sólidos como o respeito, a amizade, o amor, etc.

    Assim toda a liberdade fornecida em Summerhill é no meu ponto de vista semelhante a da fornecida nas outras escolas, ou seja uma liberdade que assenta em valores base e que vão afectar a liberdade das crianças positivamente, ou seja fazendo cumprir a velha máxima “A minha liberdade acaba a onde a dos outros começa”. Assim encaro Summerhill como um ensino não formal com maior liberdade que as outras escolas de ensino formal, no sentido em que a criança desde cedo tem liberdade de fazer escolhas mais variadas pois o rol de opções é muito mais alargado e aprende desde cedo a lidar com as consequências das suas escolhas.

    No entanto a escola peca quando mete crianças a coordenar outras e são as assembleias compostas pelas crianças que fazem as regras, pois deste modo se as crianças decidirem que não querem ter aulas e optam por desenvolver outras actividades, não vão ganhar hábitos de estudo e sofrer um grande choque quando de repente se virem obrigadas a frequentar de um dia para o outro salas de aula de ensino formal onde não podem decidir que tipo de actividades ou temas querem abordar.

    Isto porque, apesar de, como é obvio, a criança ter vontade própria, mas não terá uma noção exacta do que será melhor para ela a longo prazo, e por isso se esta não for obrigada a criar hábitos de estudos desde cedo, optando por só brincar, mesmo que de forma didáctica até aos dez anos, ao entrar na pré-adolescencia continuará numa atitude passiva em relação aos estudos, devido a todo o facilitismo que teve até aí, não querendo estudar pois achará muito mais interessante desenvolver outro tipo de actividades, que só por si não lhe darão capacidade de trabalho no futuro.

    Há ainda pelo que percebi uma norma que diz que a presença de uma criança nas salas de aulas pode ser-lhe vedada caso o grupo já existente ache que isso esta a prejudicar o trabalho já desenvolvido, assim desta forma viola a liberdade de escolha da criança que optou por começar a frequentar as aulas. Mais uma vez se prova que afinal a escola de Summerhill tem regras, à semelhança das outras escolas, que condicionam a liberdade de escolha das crianças.

    Ainda outro ponto que não acho minimamente positivo é o facto de estas não terem contacto com a família durante o ano electivo, quer dizer não querem formar robôs mas privam as crianças de estar em contacto com a família e de criar laços de amor e amizade com a mesma, obrigam-nas a crescer sem a atenção dos pais, as maquinas é que não necessitam de afectos, os humanos para crescerem saudáveis psicologicamente necessitam de sentirem que alguém os ama, protege e ajuda a crescer de forma única, e não crescerem sozinhos entregues a eles próprios tento somente uma ou mais figuras que lhes transmitem esses afectos de forma muito mais desprendida, pois são as figuras parentais de uma escola inteira e não somente de uma, duas ou três crianças.

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  2. Mas apesar de todas estas reticencias da minha parte, há pontos em que concordo totalmente, penso que o ensino até aos dez anos deveria ser muito mais pratico e virado para o desenvolvimento das capacidades físicas e mentais da criança em vez de a obrigar desde muito cedo a decorar coisas que ela não compreende ou a ter de aceitar forçosamente a vontade dos mais velhos quando ela não tem a mesma opinião sobre o assunto, não podendo expressar o seu ponto de vista, pois é tido como sem valor, porque na sociedade de hoje ainda se acredita que a criança não tem capacidade para saber o que é certo ou errado. A criança deveria ter muito mais tempo para brincar em “liberdade”, não só com os brinquedos do mundo moderno, mas em interacção com o meio ambiente que a rodeia, em contacto com a natureza e com os animais. Deveria ter mais espaço para descobrir por ela própria e não ter já a “papinha toda feita”. Ter espaço para decidir aquilo que quer ser e não ser obrigada pelos pais ou educadores a seguir aquilo que eles acham ser melhor para a criança, nomeadamente no que toca as suas profissões futuras, em que desde cedo os pais tem tendência para dizer que eles tem de ser médicos ou engenheiros não lhes dizendo que eles também podem ser pescadores ou agricultores ou outra coisa qualquer.

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