Estou dentro das paredes de uma escola.
Uma altura apropriada para ler e pensar sobre o que Erich diz. De facto pode parecer um lugar comum, mas foram estas premissas, que aqui se encontram explicadas de uma forma simples e acessível, que me fizeram procurar uma outra forma de crescer. Como diria o nosso amigo, que força é essa amigo? Que te põe de bem com outro s e de mal contigo?
"Será errónea a ideia de educação sem emprego da força? Mesmo que não o seja, teóricamente, como explicar o seu relativo malogro?
Acredito que a ideia da liberdade para as crianças não seja errada. Mas, foi, quase sempre, pervertida. A fim de discutir com clareza o assunto. devemos antes de mais nada, compreender a natureza de liberdade. Para tanto, devemos estabelecer a diferença entre autoridade manifesta e autoridade anónima.
A autoridade manifesta é exercida directa e explicitamente. A pessoa que exerce fala com franqueza àquela que lhe está submetida:
-Deve fazer isto. Se não fizer, determinadas sanções lhe seráo aplicadas.
A autoridade anónima tende a esconder que a força está sendo empregada. Faz de conta que não há autoridade, que tudo é feito com o consentimento de cada qual. O professor do passado dizia a Jonhy:
-Deves fazer isto. Se não fizeres, eu te castigarei.
O professor de hoje diz:
-Tenho a certeza que gostarás de fazer isto.
Aqui, a sanção por desobediência não é o castigo corporal, mas o rosto penalizado dos pais, ou, o que é pior, o levar consigo a sensação de não estar"ajustado", de não agir como os demais. A autoridade manifesta usava a força física, a autoridade psicológica emprega a manipulação psíquica.
A modificação da autoridade manifesta no século XIX para a autoridade anónima do século XX foi determinada pelas necessidades de organização da nossa sociedadade industrial moderna. A concentração do capital leva à formação de empresas gigantes, dirigidas por burocracia hierarquicamente organizada. Grande aglomerado de trabalhadores e funcionários trabalha em conjunto, sendo cada indivíduo uma parte de uma máquina organizada, que, para bem funcionar, deve fazê-lo sem dificuldades, nem interrupções. O trabalhador individual torna-se apenas um parafuso em tal máquina. Nessa organização de produção o indivíduo é dirigido e manipulado.
Na esfera do consumo (na qual se tem a impressão de que o indivíduo expressa livre escolha) também ele é dirigido e manipulado. No consumo de comida, de roupas, de bebidas, de cigarros, de programas de rádio e televisão, um poderoso aparelho que trabalha com dois propósitos: aumentar constantemente o aptetite individual para novas comodidades, e, em segundo lugar, dirigir tal apetite aos canais mais proveitosos da indústria. O homem é transformado no consumidor, no eterno pimpolho de mama, cujo único desejo é consumir, cada vez mais,"melhores"coisas.
O nosso sistema económico precisa de criar homens que se adaptem às suas necessidades, homens que cooperem harmoniosamente, homens que desejem consumir cada vez mais. Nosso sistema precisa de homens que se sintam livres e independentes, mas que, apesar disso, estejam dispostos a fazer o que deles se espera, homens que se ajustem à máquina social, sem fricção, que posam ser guiados sem o emprego da força., que possam ser liderados sem líderes e que possam ser dirigidos sem qualquer outro alvo que não seja "ter sucesso".
A autoridade não desapareceu, nem mesmo perdeu o seu vigor, mas foi transformada de autoridade manifesta em autoridade anónima de persuasão e sugestão. Em outras palavras, para ser adaptável, o homem moderno é obrigado a nutrir a ilusão de que tudo é feito com o seu consentimento, mesmo quando esse consentimento lhe é extraído através de subtil manipulação. Seu consentimento é obtido sim, mas através das suas costas, para além da sua consciência.
Os mesmo artifícios são utilizados na educação progressiva. A criança é froçada a engolir a pílula, mas a essa pílula aplica-se uma cobertura de açucar. Pais e professores têm confundido a autêntica educação despida de autoritarismo com educação por meio da persuasão e coação ocultas." Excerto do prefácio de Erich Fromm, Liberdade sem medo, A S Neil.
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