Mara Nunes é psicopedagoga, tem 30 anos e uma filha com 15 meses. Já seguia alguns dos princípios da Educação Intuitiva profissionalmente. Agora aplica-os na aventura de educar a sua filha.
Já antes de engravidar já me interessava muito pela área da educação, pela vertente profissional. Mas procurava alargar conhecimentos e conhecer novas abordagens. Encontrei muitas visões diferentes da forma convencional de educar, da forma como a maioria de nós, pais, teremos sido educados.
Com a minha filha, comecei a tomar uma série de opções que eram instintivas para mim. Só depois conheci a Educação Intuitiva e percebi que se enquadrava nas opções que eu já fazia. Até aí achava que era uma visão pessoal, todas as pessoas à minha volta questionavam as minhas escolhas, como o parto em casa para respeitar mais o bebé e os seus ritmos, como pôr a minha a filha a dormir comigo, ou andar sempre com ela ao colo, no pano, ou ainda, hoje, continuar a dar-lhe de mamar.
Não sabia que havia um nome para tudo isso e grupos de pais que se juntavam para trocar experiências. Achei que fazia todo o sentido participar.
Penso que os pais hoje estão muito perdidos entre a forma ideal de educar e aquilo que conseguem, de facto, fazer. Por isso, estes grupos são muito úteis. Porque o mais difícil, neste processo, é lidar com as pressões exteriores.
A minha filha é bastante autónoma
Logo para começar, o parto foi muito respeitado e cada vez acho mais que o nascimento é a base de muito do que acontece ao longo da vida. Há coisas que têm explicação muito mais atrás do que nós imaginamos. Isso é logo um dos princípios da educação intuitiva.
Depois é tudo muito natural e ao ritmo dela. Até aos 12 meses, os sólidos foram sendo introduzidos muito devagar, só à medida que ela procurava. Foi alimentada sobretudo com leite materno. As pessoas achavam que ela ia ficar doente, que depois não ia querer comer.
Quando saio com ela para fazer caminhadas ou para ir às compras vai sempre no pano, desde as seis semanas de vida. Nunca usei o carrinho.
Hoje come praticamente tudo, adora comer, come sozinha com a sua colher. Para quem pensa que as crianças ficam muito dependentes, só posso dizer que a minha filha é uma criança normal, mas talvez mais autónoma do que é a média. Quando me dizem «Está muito agarrada a ti», eu respondo, «Claro, só pode estar a agarrada a mim, passa o dia comigo. A quem é que havia de estar agarrada?»
É isso que eu quero, que ela crie um vínculo grande e forte comigo. Quando se for afastando, ganhando autonomia sei que vai estar forte e segura. Esse é o instinto de todos os pais, mas pro razões culturais e pela forma como está estruturada a nossa sociedade, virada para o trabalho e ppara as questões económicas à frente de todas as outras, vamos contrariando isso e arranjando formas alternativas que agora defendemos como as melhores.
A minha filha já vai buscar o bacio sozinha de manhã e está a deixar as fraldas. Nunca teve cólicas. Nunca esteve doente, nem mesmo quando os dentes romperam. Está sempre bem disposta.
É precisa muita disponibilidade para estabelecer limites de forma inequívoca
Agora está a começar a querer fazer valer a vontade dela. Pela Disciplina Positiva, outro princípio da Educação Intuitiva, vamos procurar estabelecer limites, mas explicando-lhe o porquê desses limites e fazendo-a ver o que acontece quando não os respeita. Trata-se de envolvê-la de criar conhecimento com ela.
É um método que eu já usava no meu trabalho com crianças. Claro que com os nossos filhos é mais difícil. Claro que vai haver conflitos, mas acredito que esta é a melhor forma de educar. Vai haver birras, vai insistir em coisas que não são as que eu quero. Mas nós, pais, estamos lá para mostrar quais são os limites e para mostrá-lo sem margem para dúvidas, sem incoerências.
É difícil, é preciso muita experiência e auto-controlo. Há sempre limites, muito bem estabelecidos, não se pense que a criança anda à deriva a fazer o que lhe apetece a cada momento. Simplesmente evitamos o Não constante e os castigos.
Sei, por experiência, que a Discipina Positiva não leva a crianças mimadas e que não respeitam os outros. Tem o efeito precisamente contrário. O facto de participarem na criação de regras, não quer dizer que as vão transgredir mais, pelo contrário.
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