Gostei muito deste texto que li no blog Mamíferas:
“Imagine um ser, que nunca foi tocado, que nunca viu a luz, ser recebido de cabeça para baixo, tomar uma palmada no bumbum, cegado por uma luz artificial que serve para que o “dotô” veja melhor as coisas e esfregado por um pano áspero assim que chega a esta Terra?
Não há outra coisa a fazer senão gritar a plenos pulmões e orgulhar os pais que acham que o choro é sinal de vida. Mas não é. É dor, pura dor, como da mulher anestesiada que com um pano azul tem sua barriga cortada. Um choro que clama por respeito. Respeito pelo modo de nascer, sem ser arrancado do ventre, sem receber doses de anestesia, sem ser afastado do universo conhecido que é o braço da mãe. Choro de quem queria ser abraçado e expelir naturalmente o líquido dos pulmões. De quem queria ter tido um braço vivo para segurá-lo com amor e um peito disponível para mamar. O cordão no tempo certo ser cortado e enquanto isso não acontecesse, mamaria.
Nada de tubos nas narinas, colírios para prevenir uma conjuntivite causada por gonorréia e injecção de Vitamina K. No lugar da balança fria, o braço quente da mãe, um pano macio a aquecer o corpo. O quarto escuro, o silêncio bailante com a música que a mãe escolheu para o parto, o cheiro das entranhas, do vernix da pele do bebé. E não há separação por nemhum momento. Do colo da mãe, para o braço do pai. Olhos despertos, sentidos aguçados, para depois dormir o sono dos justos.
Acredito que defender o direito de nascer sorrindo deveria ser nossa segunda luta, que nasce com o direito de parir plenamente. Esta dupla anda junta. Um parto humanizado proporciona ao bebé um nascimento menos traumático, mais humano, pleno de significado.
Se não podemos impedir todos os sofrimentos da vida de nossos filhos, podemos fazer da primeira experiência a menos traumática e mais saudável para ambos. E parir em casa, neste contexto, se torna convidativo. Mais do que o direito de parir naturalmente a escolha pelo meu parto domiciliar surgiu porque queria que meu filho vivenciasse a naturalidade em cada instante. Sem brigar com os protocolos do hospital. E a lembrança de seu semblante sereno e seu cheiro de vida são memórias que guardo como grande vitória no arquivo da minha vida.
E você, se pudesse, como gostaria de nascer? Sorrindo ou chorando?“
Texto: Kalu
Mamíferas (Brasil)
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