“Andarilhos, aranhas, voadores, andadores. Existem com vários nomes e em diversos tamanhos, mas assemelham-se na forma. Meia dúzia de rodas dispostas em círculo «ajudam» o bebé a manter-se na vertical, antes de estar preparado para essa posição, e a deslocar-se em pé, quando ainda devia estar a tentar gatinhar. Em cima do andarilho, dando balanço com os pés no chão, uma criança pode atingir velocidades de um metro por segundo, movendo-se pelo espaço sem qualquer controlo. A rapidez com que se desloca não permite aos pais, na maior parte dos casos, reagir a tempo de impedir um acidente. Quedas de escadas ou tropeções em desníveis, que fazem o andarilho virar-se ao contrário, levando o bebé bater com a cara ou cabeça no chão, são os acidentes mais frequentes. (…)
Os últimos dados do EHLASS (Sistema Europeu de Vigilância de Acidentes Domésticos e de Lazer, coordenado pelo Instituto do Consumidor) referentes a Portugal, remontam a 1998 e contabilizam 850 acidentes com andarilhos por ano. Estes números referem-se apenas a lesões suficientemente graves para obrigar a recorrer a um serviço de urgência hospitalar. De fora ficam os casos em que a criança é tratada em casa ou levada a outros serviços de saúde. As idades mais afectadas situam-se entre os 6 e os 15 meses. Cerca de metade dos casos correspondem a quedas de escadas. Mais de 60 por cento das crianças acidentadas sofrem traumatismos cranianos.
Canadá exemplo único
Em Abril de 2004, o Canadá tornou-se o primeiro país a proibir os andarilhos. O ministro da Saúde do país anunciou a medida, lembrando «os perigos a que as crianças ficavam expostas com a utilização de andarilhos». (…)
Em Portugal, como noutros países, cabe aos pais evitar os acidentes com os andarilhos. A única solução possível é não comprar, não receber, não usar. A supervisão de um adulto não é suficiente para impedir quedas, queimaduras ou embates. «Em mais de 50 por cento dos acidentes com andarilhos há um adulto por perto. Só que, quando se apercebe, já não tem tempo para reagir», esclarece Helena Cardoso Menezes, presidente da APSI.
(…) «As normas europeias de segurança para os andarilhos referem apenas a largura do arco, que deve ser suficientemente grande para impedir a passagem por certos sítios, e o sistema de travagem, que, no caso de uma roda ficar no ar, deve obrigar as outras a travarem», explica Helena Cardoso Menezes, deixando claro que são medidas insuficientes. «Os andarilhos são, isoladamente, os equipamentos de puericultura que mais acidentes graves provocam na faixa etária entre os 6 e os 15 meses».
Inimigos da marcha
O perigo de acidentes não é o único problema dos andarilhos. «O facto de a criança ficar em pé no andarilho impede-a de rolar, sentar-se ou gatinhar, que são as bases para a aquisição da marcha. Quanto mais praticar estas etapas, mais depressa aprenderá a andar. Além disso, como o bebé anda na ponta dos pés, causa tensão nos músculos das pernas, atrasando o desenvolvimento motor em geral», explica Elsa Rocha, pediatra no Hospital de Faro. «Os andarilhos são um contra-senso, uma vez que são desenhados para pôr a criança numa posição que não é a ideal para o seu desenvolvimento naquele momento», clarifica Elsa Rocha, que também é uma das responsáveis pelo estudo da SPP (Sociedade Portuguesa de Pediatria) sobre andarilhos.
A pediatra reforça ainda a inutilidade dos andarilhos, alertando para os perigos que lhe estão associados: «São completamente contra-indicados. Mesmo que sejam utilizados durante pouco tempo, não fazem bem nenhum. É fundamental alertar os pais. A maior parte não tem noção de que os andarilhos são um objecto perigoso e sem qualquer tipo de vantagem.» (…)
Em Portugal, a recomendação surge até no Boletim de Saúde Infantil e Juvenil: «Os andarilhos (aranhas, voadores) provocam muitos acidentes: quedas, entalões, queimaduras, pancadas na cabeça, e não ajudam a andar, pelo contrário, podem atrasar», lê-se nos conselhos aos pais. Os especialistas recomendam ainda, a quem tiver um andarilho em casa, que, antes de o deitar para o lixo, o destrua até ficar inutilizado, para que ninguém possa mesmo voltar a usá-lo.”
Texto: Patrícia Lamúrias
Revista IOL Mãe
2007/03/04
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário