Segundo Elisabeth Badinter, e que na minha opinião é irrefutável, não existe um modelo perfeito de mãe mas sim escolhas
parentais que se devem adaptar ao contexto e necessidades de cada
mulher. Mas o que fazer quando as necessidades da mãe esbarram nas
necessidades dos filhos? Qual o peso do social e do biológico na
determinação dessas necessidades? Se a primazia da nossa vida em
sociedade não estivesse no consumo - e no trabalho que permite auferir
o rendimento que dá acesso aos bens de consumo - as necessidades
básicas do ser humano seriam as mesmas? As necessidades de um recém
nascido e de uma puérpera seriam as mesmas?
Outra verdade irrefutável no seu discurso é o facto de ser necessário
ter em conta a diversidade inerente ao conceito de feminino. Ser mulher
não significa ser mãe nem ser um determinado tipo de mãe.
Depois, temos as questões controversas e quanto mais exploro as
posições da autora sobre a maternidade, mais considero que estas só
fazem sentido no quadro da dicotomia consumo/trabalho. De notar também
que as escolhas e práticas parentais vão muito para além da saída, ou
não, da mulher de casa para trabalhar e essa diversidade está ausente
do discurso da investigadora.
Diz-nos E. Badinter que, a OMS e a UNICEF decretaram a amamentação exclusiva e em livre demanda até aos seis meses e a amamentação até, no mínimo, aos dois anos por terem cedido
às pressões de uma América católica e conservadora que obriga, para
poder cumprir com as recomendações em causa, a mulher a ficar
disponível para os seus filhos 24 horas por dia sob risco de não ser
considerada uma boa mãe.
às pressões de uma América católica e conservadora que obriga, para
poder cumprir com as recomendações em causa, a mulher a ficar
disponível para os seus filhos 24 horas por dia sob risco de não ser
considerada uma boa mãe.
Diz-nos ainda que a licença de maternidade pode ser um presente envenenado dado que assistimos ao Estado a impor um ideal de mãe. Este
ideal de mãe socialmente imposto, pode ser responsável pelo decréscimo
da natalidade em muitos países ocidentais (nos quais a autora inclui
Portugal) dado que as mulheres que queiram ser profissionalmente bem
sucedidas tentem a não desejar ter filhos. A autora fala na necessidade
de apoiar as mães que trabalham e isso não passa por alargar as
licenças parentais mas, infelizmente, não nos indica como esta ajuda se
poderia consubstanciar. Afirma também que as mulheres que optam por
tirar a licença parental alargada, não encontram os seus postos de
trabalho quando esta termina e ficam, devido ao desemprego e falta de
independência financeira, alienadas em casamentos que, muitas vezes, já
não são satisfatórios.
Como justificação para o facto de a taxa de natalidade em França não
ser tão reduzida como noutros países europeus, a investigadora aponta o
facto de na sociedade francesa as mulheres preferirem suprir primeiro
as necessidades dos maridos e só depois as dos filhos o que significa
que estas não abdicam do seu papel de esposa que contribui para o
orçamento familiar mesmo tendo filhos - e não são julgadas por isso - e
por isso não necessitam de se privar de os ter.
As posições da filosofa são controversas por exemplo, quando afirma que
os movimentos ecologistas são machistas e estão, em nome do ambiente,a
empurrar a mulher à reclusão do lar. Tenho que concordar que um Governo
que visa taxar as fraldas descartáveis por estas serem muito poluentes
em vez de dar icentivos para que se criem alternativas igualmente
descartáveis mas biodegradáveis, é um Governo que, como diz a autora,
se preocupa mais com o ambiente do que com as mulheres mas também
poderá ser, digo eu, um Governo que vê em todo o lado oportunidades
para arrecadar dividentos de impostos. Mais difícil de concordar é com
a crítica da autora às mulheres que optam por não tomar a pílula
contraceptiva, por ter partos sem epidural e/ou em casa por, diz-nos,
estarem aterrorizadas com tudo o que é articifical.
Fala-nos ainda da necessidade feminina de ajustar contas com as suas
mães e no papel deste "ajuste de contas" na saída das mulheres para o
trabalho "não vou ficar sacrificar a minha vida e ficar em casa como a
minha mãe" - diziam as mães nos últimos 30 anos - versus o actual
"primeiro o meu filho, não vou trabalhar e relega-lo para segundo plano
como a minha mãe".
Uma outra opinião controversa é a de que, com as actuais directivas
sobre o aleitamento materno, os pais se tornam meros espectadores que
deixaram de ter que se preocupar em dar o beberão aos filhos. Mas,
pergunto eu, a participação activa nas tarefas domésticas, com ou sem
filhos, passa apenas por dar um biberão?
A supressão das desigualdades de género não passam por decidir se é a
mãe que amamenta a cria ou o pai que lhe dá o biberão. Fazer a mãe ir
trabalhar uns dias depois de dar à luz ou ter uma sociedade que se
organizou de forma a que tanto mulheres como homens se sentem sozinhos
e infelizes em casa com os filhos - e por isso preferem ir trabalhar -
também não é grande garante de igualdade. Da mesma forma que ser mulher
não deve ser sinónimo de ser mãe, ser humano/a não deve ser sinónimo de
ser trabalhador/a.
Finalmente,esta obra - e as posições consentâneas com a mesma - prima
pela ausência de referências às necessidades dos recém nascidos e das
crianças e parece fazer uma dissociação entre estes e o mundo dos
adultos como se nenhum de nós nunca tivesse sido bebé e criança.
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