sábado, 20 de fevereiro de 2010

Como os pais devem reagir ao choro do bébé

 
Imagine por um instante que você foi levado por uma nave espacial para um planeta distante, onde está cercado de gigantes estranhos cuja língua você não entende.
Dois desses estranhos decidem cuidar de si. Você é totalmente dependente deles para a satisfação de todas as suas necessidades - fome, sede, conforto e - principalmente - para assegurá-lo de que não corre perigo nesse lugar estranho. Imagine então que alguma coisa vai mal - você está com dor, ou com muita sede ou a precisar de afecto.
Mas os responsáveis ignoram seus gritos de desespero e você não consegue fazê-los compreender do que você precisa.

Agora você tem um problema a mais, pior que o primeiro: sente-se totalmente desamparado e sozinho num mundo estranho.Com toda a inocência, o bebé parte do pressuposto de que nós, seus pais, estamos certos - e que fazemos tudo o que deveríamos fazer. Se não fizermos nada, o bebé só pode concluir que não é amado porque não merece o nosso amor. Ele não é capaz de entender que nós estamos ocupados, distraídos, preocupados, mal orientados por "especialistas", ou que simplesmente somos pais inexperientes. Não importa o quanto amamos nosso bebé, o que ele entende são as manifestações externas desse amor.
Ninguém gosta que sua comunicação seja ignorada. Ser ignorado desperta sentimentos de desamparo e raiva que inevitavelmente prejudicam o relacionamento. Todos os adultos sentem isso e não há porquê imaginar que seja diferente com bebés e crianças. Pouca gente ignoraria um adulto que repetisse: "Você poderia me ajudar? Não me estou a sentir bem." Ignorar esse pedido seria considerado muito pouco gentil. Mas um bebé não pode falar assim; ele só pode chorar e chorar até que alguém o atenda - ou até desistir, desesperado.
A reação imediata ao choro de uma criança não foi questionada durante milénios, até aos nossos dias. Na nossa cultura, assumimos que o choro do bebé é normal e inevitável. Mas em sociedades naturais onde os bebés são transportados junto aos adultos na maior parte do dia e da noite durante seus primeiros meses de vida, o choro é incomum. Ao contrário do que se acredita na nossa sociedade, bebés tratados assim tornam-se auto-suficientes mais cedo do que os bebés que não recebem esses cuidados. Na verdade as pesquisas sobre as primeiras experiências da infância mostram que as crianças que receberam cuidados mais amorosos nos primeiros anos de vida tornam-se adultos mais amorosos e confiantes. Os bebés obrigados a ser submissos desenvolvem ressentimentos e raiva que podem ser manifestados de forma nociva mais tarde. Apesar dessas pesquisas, a maioria dos argumentos para se ignorar o choro baseiam-se no receio de "estragar com mimos" o bebé. Um livro clássico de cuidados ao bebé adverte os pais a "deixar o bebé lidar com seu problema".

Embora a primeira infância seja uma época de desafios para os pais, um bebé é muito novo e inexperiente para "lidar" com a causa de seu choro, seja ela qual for. Ele não se pode alimentar, trocar de roupa ou confortar-se do modo que a natureza pede. É evidente que é responsabilidade dos pais preencher as necessidades de alimento, segurança e amor do bebé, e não responsabilidade do bebé preencher as necessidades de paz e sossego dos pais.
A publicação insinua que se os pais derem ao bebé a oportunidade de ser auto-confiante, estão a contribuir para seu amadurecimento. Mas um bebé simplesmente não é capaz dessa maturidade. A maturidade verdadeira reflecte uma base sólida de segurança emocional que só se pode desenvolver com amor e apoio dos adultos próximos, nos primeiros anos de vida. Uma pessoa imatura só pode reagir ao stress de modo imaturo.
Um bebé a quem se nega o seu direito nato de ser reconfortado pelos pais pode voltar-se para o recurso ineficaz da auto-estimulação (bater com a cabeça, embalar-se de um lado para o outro, chuchar no dedo, etc) e o distanciamento emocional das pessoas. Se as suas necessidades forem sempre ignoradas, ele pode decidir que a solidão e o desespero são preferíveis a arriscar-se a sofrer mais frustração e rejeição.

Infelizmente, uma vez que ele toma essa decisão ela pode se tornar uma visão definitiva da vida, que leva a uma vida emocional muito pobre.
Muitos profissionais que lidam com crianças percebem que o incentivo dos pais à auto-satisfação, além da substituição abusiva por objectos materiais - ursinhos que substituem os pais, carrinhos em vez de braços, grades em vez de dormir junto, chupetas em vez de mamar no peito, brinquedos em vez de atenção, caixinhas de música no lugar de vozes, leite em pó em vez de leite materno, cadeira de balanço em lugar do colo - determinaram uma época de consumismo, isolamento pessoal e insatisfação emocional.

Ignorar o choro de uma criança é como usar protector de ouvidos para evitar o ruído desagradável de um detector de incêndio. O som de um detector de incêndio serve para nos alertar sobre um assunto sério que exige uma atitude - o mesmo acontece com o choro do bebé. Como Jean Liedloff escreveu em 'The Continuum Concept', "o choro do bebé é um problema tão sério quanto o seu ruído sugere". Por mais stressante que seja, o choro da criança não deve ser visto como uma medição de forças entre o pai ou a mãe e o filho, mas como um presente da natureza para assegurar que todos os bebés cresçam com uma capacidade generosa de amor e confiança.

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