segunda-feira, 29 de julho de 2013

Criar limites, ou impor limites? (Parte 1)

Faz pouco tempo, chamou-me a atencao o titulo de uma conversa... Era algo assim: "Por limites quando, como e porque?" Isto referia-se claro aos limites que se supoe que as maes e os pais devem ter sobre as criancas. Este sem duvida e um dos temas mais complicados que todxs os que queremos educar criancas,  faze-las felizes e sobretudo que crescam livres e sem estarem submissas de ninguem, podemos encontrar nos nossos caminhos.
Uma das respostas que mais me interessou, encontrei-a no livro de Francoise Dolto, "La cause des enfants".
Este livro analisa o trato habitual que as maes e pais dao as suas criancas, quando estas comecam a ser autonomas, e que na sua maioria dos casos, consiste em dar-lhes ordens sobre todos os aspectos da sua vida quotidiana.
Nesta atitude ha dois aspectos importantes:
Um e a substimacao das capacidades (intelectual, motricidades, etc) das criancas. Segundo Dolto, as maes e pais substimam as capacidade e qualidades (inoteligencia, sensibilidade, capacidade de discernimento, sentido comum, responsabilidade, instinto de sobrevivencia e sentido de cuidar de si mesmo, capacidade de iniciativa, etc) das criancas em geral, e as tratam como se elas mesmas fossem incapazes de sentir, de pensar, de avaliar as circunstancias de uma situacao especifica, ou de tomar qualquer decisao por menor que seja.
Pelo geral, em sociedades menos patriacais, podemos observar que a infancia e mais livre e goza de maior reconhecimento e confianca no que se refere a inteligencia das criancas. Dolto refere que o reconhecimento das capacidades efectivas das criancas nos levara a dar-lhes uma informacao respeitosa, confiando nas suas capacidades de discernimento, ao inves de dar-lhes sistematicamente ordens.
A diferenca entre dar informacao e dar ordens e crucial. Daolto poe um exemplo que me parece muito ilustrativo. "A um japones que aterrasse na nossa cidade nao lhe dariamos ordens de o que deve fazer, o que visitar, etc. Dariamos-lhe sim a informacao necessaria para que ele sozinho se possa orientar pela cidade. (trasportes publicos, onde comer, etc). "
Porque nao temos a mesma atitude com as criancas, do que com um visitante estrangeiro?
Para responder a pergunta ha que ter em conta o segundo aspecto a que me referia antes:
A prepotencia adulta.
Porque na atitude com o visitante estrangeiro, para alem do reconhecimento da sua capacidade de discernimento, de mobilidade, etc, ha tambem um reconhecimento da sua integridade como pessoa, com os seus gostos, vontades, prioridades, inclusive a sua escala de valores... Noutras palavras nao so ha reconhecimento da sua inteligencia e capacidades, mas tambem consideracao e respeito em relacao ao que quer; assim devia ser a atitude correcta com os nossos semelhantes, de igual para igual. A atitude com as criancas e diferente, nao so porque como referimos antes, substimamos as suas capacidades, mas tambem porque temos incoscientemente interiorizado que somos superiores a elas, e consequentemente, que elas sao nossas subordinadas. Somos prepotentes com a infancia, no sentido literal da palavra: pre-potentes. Temos o poder previo sobre as criancas. Temos tambem o dinheiro e os meios sobre todas as suas actividades quotidianas, e temos ainda o poder para decidir quais as suas prioridades, ainda que essas normalmente sejas as nossas. 
Convem recordar que o nosso modelos de homem e mulher adultos incluem a hierarquia social que tanto caracteriza a nossa civilizacao, onde um dos seus pilares e a superioridade adulta. Ja Aristoteles no sec ro XV A.C. dizia "para fazer grandes coisas e preciso ser tao superior aos seus semelhantes, como e o homem a mulher, o pai aos filhos e o senhor aos escravos". A pratica adulta de mandar sobre os filhos e tao velha como o proprio patriacado. A realidade e que vimos carregando esta realidade anos apos anos e a temos guardada dentro de nos ainda que insconscientemente. 
Devido a esta interiorizacao todos os dias, sem darmos conta, damos corda a estas suspostas incapacidades das criancas que justificam a nossa superioridade e nao somos capazes de romper o circulo vicioso e a dinamica social, nem pensamos outra possibilidade em relacao a isso.  Nunca nos ocorre trata-las como ao japones do exemplo: como seres humanos aos quais ha que ajudar a conhecer o funcionamento do mundo onde aterraram.
 Por isso as criancas em geral nao se lhes informa  acerca da economia familiar, das obrigacoes e dificuldades dos adultos. Diz-se que nao sao coisas de criancas. 

1 comentário:

  1. A questão dos limites sempre foi uma incognita para aqueles que como nós acreditamos que a educaçao é a base para a construçao de um mundo melhor.

    A questão julgo está também como e quando colocar esses limites? Em vez de impor transmiti los de igual para igual.

    No entanto se formos a ver, acontece que muitos casais que sao pais, querem se los sem realmente pensarem no que é a educaçao de outro ser, hoje em dia muitas pessoas tem filhos por uma questao de status e logo aí o passo para uma boa educaçao ainda está longe.

    No entnato também existem aqueles que nunca sonharam ser pais e de repente o são, e revelam.se grandes pais.

    A tal subestimaçao que falas, acho que ja vem dos pais mesmos, se sao pessoas de certa forma muito inseguras e que nem neles proprios acredtiam ou são felizes com a vida que levam, ou se não sao pessoas capazes de ver ambos o lado bom e menos bom das circunstancias da vida,e porque muitas vezes agem com os filhos como alguns professores, que por serem adultos acham que tem determinado poder e a falta de capacidade que muitos tem de que a criança coitadinha é pequenina nao perçebe nada, quando ela já vem a entender o mundo desde o momento em que é concebido, enquanto houver esse pensamento de infantilizar a criançinha sem duvida que havera subestimaçao dos pais para as crianças, e isso passará de geraçao em geraçao criando seres nao autonomos, sem espirito critico, e por ai adiante.

    Logo, a educaçao de certa forma teria tambem de começar pelos pais.

    Um dos passos para uma maior eficacia de "imposiçao" de limites é acreditarmos que todos somos espiritos livres de seguir o seu caminho e de que todos aprendemos uns com os outros, desde crianças a idosos, somos capazes de aceitar de bom grado também as limitações de cada um, pois podemos nao ser capazes para umas coisas, mas sim somos para outras, e á que saber como canalizar isso.

    Resumindo e concordadno com o senhor Doldot, falta mais humildade ao ser humano.

    Tens esse livro em pdf?

    ResponderEliminar