sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O medo do parto

“«As mulheres crescem a ouvir histórias terríveis sobre o parto», afirma Luísa Condeço, doula e co-fundadora da Associação Doulas de Portugal. «Às vezes, é para alguém exorcizar o seu próprio parto traumático, outras vezes é apenas porque sim, porque faz parte do ritual de passagem.»

O medo da dor
O trabalho das doulas passa muito pelo desmistificar de ideias feitas, com a ajuda de evidências científicas, e pela mentalização positiva. Em relação à dor, «explicamos que a melhor estratégia para enfrentar a dor é encará-la como uma aliada, sempre partindo do princípio que ela pode ou não existir. É óbvio que não podemos dizer que não vai doer, mas podemos ajudar a grávida a encará-la de uma forma positiva», conta Luísa Condeço. «Esta dor deve ser a única que não significa que alguma coisa está mal no nosso corpo. Pelo contrário, esta dor significa que o nosso corpo está a fazer o seu trabalho. A dor tem uma função fisiológica, leva a mulher a descontrair-se entre as contracções, a libertar analgésicos naturais e conduz a um estado alterado de consciência. Isto não acontece se a mulher estiver tensa desde o início. Se estiver preocupada em combater a dor, está a enfatizar essa dor. Se aceitarmos a dor, ela é relativizada e consegue-se descontrair, relaxar entre contracções, contribuindo para uma maior libertação de occitocina», explica Luísa. «Mostramos também que a Natureza é sábia: deu-nos as contracções para nos ajudar, mas também nos deu os intervalos entre elas, para podermos descansar, respirar fundo. Temos de saber aproveitá-los».

O medo do desconhecido

A nossa sociedade afastou-nos tanto da Natureza, que nos afastou do nosso próprio corpo. «Estamos muito longe do nosso lado mais biológico, mais animal», afirma Luísa. A ignorância das mulheres sobre o seu corpo não ajuda. Não aprendem a ouvir o seu corpo, não testemunham o nascimento de crianças próximas, só conhecem as histórias terríveis, de modo que o desconhecido faz nascer, muitas vezes, medos infundados», defende.

O medo do hospital
Se por um lado o hospital oferece segurança à maior parte das mulheres, por outro pode ser um motivo de angústia, de receios. «Saber que se vai estar em trabalho de parto num ambiente sem privacidade, saber que se vai estar sujeita a procedimentos assustadores é seguramente um motivo para ter medo. Não acredito que haja uma mulher que não tenha medo de uma episiotomia. O medo do hospital pode também vir na sequência de um primeiro parto traumático», conta Luísa Condeço. «Cada vez mais, as mulheres sentem que têm o direito de fazer escolhas. E é isso que lhes mostramos», acrescenta.

Os medos escondidos

Mas há outros medos escondidos: a vergonha (que é o medo de perder a compostura); o medo da separação do bebé; a angústia de deixar de ser apenas filha para passar a ser também mãe. «O parto coloca-nos perante nós mesmas. Isso pode ser assustador. Mas podemos ficar com mais força, se deixarmos vir ao de cima o nosso lado mais primitivo», afirma Luísa Condeço.

O efeito do medo

É consensual que o medo e a expectativa que temos em relação ao parto condiciona a forma como este se desenrola. «Penso que o medo pode condicionar a progressão do trabalho de parto, sim, há algumas evidências nesse sentido. A explicação fisiológica é que o medo faz subir os níveis da adrenalina, o que faz diminuir os níveis da occitocina, a hormona responsável pelas contracções», explica Diogo Ayres de Campos (director do Serviço de Obstetrícia do Hospital de S. João).“



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