1. Todas as grávidas e acompanhantes têm o direito de ser tratadas com respeito e dignidade, independentemente das suas convicções e opções.
2. Promover um ambiente carinhoso, em que é permitido à grávida expressar a sua forma de ser e de vivenciar esse momento único e tão importante da sua vida, bem como ver respeitada a sua privacidade e conforto, são aspectos essenciais dos cuidados intraparto.
3. O trabalho de parto de início espontâneo que culmina num parto eutócico (parto vaginal sem intervenções) e decorre entre as 37 e as 42 semanas, é actualmente a forma mais segura de nascimento.
4. O recurso ao parto induzido (provocado artificialmente) e à cesariana sem qualquer motivo de saúde, mas apenas por conveniência dos envolvidos, está associado a maiores riscos1,2 e é considerado pela comunidade científica internacional como uma prática injustificada2.
5. O parto é um processo natural que, na maioria dos casos, apenas necessita da vigilância e apoio por profissionais de saúde. Nos casos de baixo risco estes deverão, preferencialmente, ser prestados por um enfermeiro especialista de saúde materna e obstétrica/parteira3.
6. Existem casos, mesmo considerados de baixo risco, em que são necessárias intervenções de saúde para evitar complicações graves decorrentes do parto4. É fundamental assegurar em todos os casos o acesso a tratamentos de urgência qualificados e baseados na evidência científica.
7. A evidência científica actual não apoia como intervenções de rotina nas parturientes de baixo risco: a tricotomia perineal5 (corte dos pêlos púbicos); a utilização sistemática de clisteres6; a utilização sistemática de soros2 , ocitocina2 e a amniotomia (rotura artificial da bolsa de águas) no trabalho de parto2; a restrição da alimentação líquida7; a restrição dos movimentos2; a restrição da posição do parto8; a episiotomia sistemática (corte dos tecidos da vagina na altura do nascimento em todas as parturientes)9; a aspiração sistemática das vias respiratórias no recém-nascido que nasce com boa vitalidade10.
8. A evidência científica actual aconselha como opções benéficas durante o parto nas parturientes de baixo risco a arquitectura não-hospitalar das salas de parto11 e o apoio contínuo durante o trabalho de parto12. Todas as grávidas devem poder contar com o recurso a métodos de alívio da dor durante o trabalho de parto, assegurando-se a disponibilidade dos mesmos assim que a mãe os solicite e o profissional de saúde entenda adequado. O leque de opções neste âmbito deve compreender os métodos farmacológicos (incluíndo a analgesia epidural ou raquidiana) e os não farmacológicos (incluíndo o banho de imersão/chuveiro durante a fase de dilatação13, ou a simples deambulação), privilegiando-se estes últimos como intervenções de primeira linha nas grávidas de baixo risco.
9. As grávidas têm direito a receber informações completas, correctas e não tendenciosas, baseadas na melhor evidência científica disponível sobre riscos, benefícios e alternativas disponíveis para os cuidados de saúde, de forma a tomarem uma decisão informada e, se entenderem, mudarem de opinião relativamente às suas escolhas. É necessário fomentar a avaliação e divulgação dos principais indicadores estatísticos associados ao parto por cada instituição de saúde.
10. O parto é um evento familiar, onde a possibilidade da grávida poder escolher a presença permanente de elementos próximos e de poder contactar precocemente com a restante família são aspectos essenciais para a vivência do momento.
(Nota: as notas que surjem neste texto, remetem para fontes em que assentam as evidências científicas, e estão disponíveis aqui )
• O grupo decidiu divulgar estes princípios a toda a sociedade para avaliar os apoios que lhe seriam concedidos. Depois disso, pretende-se divulgar os mesmos junto das entidades com responsabilidades directas nos estabelecimentos de saúde portugueses.
• Se estiver de acordo com estes princípios, por favor subscreva este documento.
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