quinta-feira, 27 de maio de 2010

Manifesto das Crianças

Sem qualquer intenção de teorizar, simplesmente achei que o texto e o trecho vai ao encontro deste renascer pela criança...

"Acredito, como Nietzsche, que é nelas que está a possibilidade de um novo tempo. Por isso, agora que voltou à universidade, a pedagogia que estuda e professa é a da libertação. “Hay que escolarizar-se, pero sín perder la ternura jamás”, diz, parafraseando Che, com aquele seu risinho mineiro.

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Crítico da escola, busca no seu fazer cotidiano encontrar respostas para uma nova educação, que não formate, que não oprima, que não mate a criança interior. Por isso, inventou um (ante) manifesto, que está em construção. “Ele foi inspirado no Manifesto Comunista, de baixo pra cima. Eu entendo a importância que aquele manifesto teve naquele período histórico, mas penso que hoje devemos contemplar em nossos corações as indignações para o despertamento da Criança Interior, capaz de fazer a verdadeira revolução, talvez a única possível: a de nossos próprios corações, que se entenderão uns com os outros nas dimensões em que interagimos".

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Dividimos com todos essas idéias, para que comunguem e retornem. O manifesto não está pronto. Precisa de ti! Da tua criança... Então? Avante!!! “Esse 'manifestarmos' quem somos, apesar de tudo o que nos quer "apagar", é a fonte de inspiração desse Manifesto das Crianças: mãos em festa, em obra, escarafunchando a Terra, acariciando um rosto, enxugando uma lágrima, dando-se à outra mão/Criança para passear junto pelos campos. *



Trecho:

(...) Crianças, que seus corações estejam abertos para compartilhar a riqueza de idéias e ideais de cada um. Que o futuro seja construído a partir de seus sonhos de ventura. Repartam, de mãos cheias de alegria, os abraços e cuidados para com tudo e todos. Construam, assim, seu mundo novo. As flores e os frutos deste jardim são abundantes. Juntem suas mãos para colher mil buquês, façam suas cestas para depois irem repartir estas alegrias plantadas e descobertas. Repartam este jardim aos outros, chamem mais crianças para brincar, que estes campos são para todos. Unam-se.

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Deixem os bancos enfadonhos das escolas que transformam as crianças em peças de máquinas, e dispersem-se pelos canteiros em busca do que aprender com seus novos amigos. Ah, crianças, abram suas asas da imaginação para tocarem-se e repartirem o que têm aprendido. Subam às árvores, iniciem hoje este processo de compartilhamento destes sonhos.

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(...) Ah, crianças, que as manhãs de seus sonhos façam cair os véus das antigas e tristes noites de quando seus sonhos lhes foram retirados. Sejam corajosas, vivam seus ideais, despertem da sonolência que lhes foi imposta pelos contadores de uma história que lhes tirou a dignidade e os finais felizes. Em cinco pétalas e palavras: acordem, brinquem, vivam, realizem, sonhem.
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Sorriam ao compartilharem suas flores, sentem-se à grama e recriem seus brinquedos. Inspirem as outras crianças adormecidas a brincarem também. Quando elas ouvirem suas gargalhadas saberão que podem se juntar à brincadeira e realizarem as vontades de sua imaginação. Crianças, um mundo despedaçado em ruínas espera sua chegada para que novas formas de viver em alegria recrie a beleza para as futuras estações.

Um tempo de pás, de baldes, de regadores, enxadas, foices e martelos para que sejam derrubadas todas as cercas, muros e portões que as separavam de seus sonhos.

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Crianças do mundo inteiro, uni-vos!

* Texto publicado na Revista Pobres & Nojentas impressa, 2005, na apresentação da Declaração de Amor aos Direitos das Crianças (1986), pelas Jornalistas Elaine Tavares e Míriam Santini de Abreu. Blog das Pobres & Nojentas: http://pobresenojentas.blogspot.com

a flor mais grande do mundo - José Saramago

partilho...tocou-me.


Quero nascer outra vez

"Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem."
(Carlos Drummond de Andrade)


Desapareci durante estes entretantos talvez por me ter deixado entristecer pelas fileiras de crianças sem sorrisos, pelo empacotamento abrupto de se Ser humano em detrimento de normas e necessidades sociais de todos menos de quem realmente importa. Sinto-me sufocada nesta ânsia de penetrar nesta máquina que se gere e não quer nem vai parar. O sistema de ensino chamado convencional, por muito que haja até ideias e valores e pessoas válidas, está profundamente errado. Quero assim voltar aqui, narcer de novo, desnascer e pensar um outro mundo...que ainda acredito possível.

Este ano vim parar, sem escudo, protecção ou noçao a uma escola como tantas outras que parasitam por aí. Sou animadora, assim me chamam e, sob essa alçada entro e saio de todas as salas, conheço todas as crianças, brinco no intervalo, confidencio na hora de almoço e leio estórias em sala de aula. E angustio. Desumanizo-me a cada dia pela dificuldade atroz de expressão desta geração entupida de tudo, com uma necessidade de se rebelarem contra algo que já nem sabem o que é. Mas não é local para divagações, ou é, mas não o farei agora.


"Estou começando a suspeitar de todos os sistemas de educação especiais e elaborados. Eles parecem-me serem construídos sobre o pressuposto de que cada criança é uma espécie de idiota que tem de ser ensinada a pensar. Na verdade, se as crianças forem entregues a si próprias, pensarão mais e melhor, se bem que de uma maneira menos teatral.

Deixem-nas ir e vir livremente, deixem-nas tocar coisas reais, deixem que elas próprias combinem suas impressões, em vez de sentá-las dentro de salas de aula em mesinhas redondas, enquanto um professor de voz doce sugere que construam paredes de pedra com blocos de madeira, façam arco-íris com tiras de papel colorido ou plantem árvores de palha em vasos de flores.

Este tipo de ensino enche a mente com associações artificiais que têm de ser eliminadas, antes das crianças poderem desenvolver ideias independentes a partir de experiências no mundo real. " - Anne Sullivan